domingo, 17 de janeiro de 2010

Trekking Zagaia - Delfinópolis

Pelo visto o ano começou agitado, dia 08 de janeiro, preparavamos o equipamento para mais uma aventura, essa era um pouco mais radical, ficariamos 2 dias andando, totalizando 50 kilometros de trilha, grande parte desconhecida e sem saber se realmente existia trilha em alguns trechos.

Essa trilha ja era planejada a alguns meses, porem não haviamos feito pois no Google Earth não existia imagens detalhadas do local. Resolvemos então que iriamos fazer sem as imagens, mas como irônia do destino, ao entrar no programa vimos que tinham inseridos fotografias mais detalhadas do local, era o que faltava pra gente, então não faltava mais nada. Começamos a combinar eu e meu pai, e então apareceu mais 3 pessoas querendo participar, 2 mulheres e 1 homem, beleza, uma trilha em 5 pessoas é bem interessante, não falta assunto por todo o percurso e a divisão da bagagem fica bem melhor.

Como nada é perfeito, de ultimo momento, todos os 3 andaram pra trás, cada um por um motivo, e agora só restava eu e meu pai, depois de alguns minutos de conversa, vendo outros dias para irmos, resolvemos faze-la no dia combinado mesmo, pois remarcando para outras vezes, sempre teriamos problemas e sempre estariamos adiando. Então demoro, ia só eu e meu pai. Sai de Ribeirão Preto, com destino a Franca no dia 08, la encontrária com meu pai para fazermos as compras de tudo que era necessário. Compramos 3 latas de feijoada, 1 de almondêgas, 1 caixa de bis, 1 kg de arroz, temperos, etc.

Ok, agora era só durmir, acordariamos as 4 da manhã, dessa proeza estava participando meu amigo Gordin, servindo de apoio, ele nos levaria até a entrada 3 (Sacramento) do Parque Nacional da Serra da Canastra, dali continuariamos de pé até Delfinópolis, e ele nos pegaria la no domingo as 16:00 hrs. Essa noite como as outras a ansiedade tomava conta de nossa mente e até durmir era dificil. Acordamos no horário programado e as 4 ja estavamos na rodovia João Traficante, saindo de Franca, destino portaria 3 do parque. Percurso que tinha 180 km, grande parte de terra. Chegamos la por volta das 6 horas e iniciamos os preparamentos. Mochila nas costas e uma foto tirada por Gordin, amanhecendo o dia e nós animadissimos para iniciar a trilha. Tudo certo, então vão bora...

Fone no ouvido curtindo um Iron Maiden para animar mais ainda, logo no início ja demos de cara um tamandua bandeira, como esse ja era figurinha repetida de tanta foto, nem perdemos tempo, ele ja saio correndo por entre o capim alto da Serra e nem fomos atrás. Estavamos descendo e passariamos pela Fazenda da Zagaia, pra quem conhece o local sabe da fama, pra que não conhece, clique aqui e conheça a história do lugar. Passamos pela Zagaia e agora estavamos subindo a Serra, andariamos por vários quilômetros na Serra da Sete Volta, entre o Vale dos Cândido e o Vale da Gurita, estariamos a 1300 metros de altitude, com uma vista que alcançava kilômetros de distância, no horizonte viamos a repressa de Peixoto, e dali viamos até mesmo as Serras de Claraval, bem próximas de Franca. Após 1:45 de caminhada por trilha bem demarcada e terreno fácil chegamos ao primeiro ponto, o sol ja estava mais alto, porem nos ajudando bastante, bem tímido atrás das nuvens, não estava passando dos 25º e como é um lugar de alta altitude o vento é bem mais intenso, e nos ajuda bastante também.

Desse ponto pra frente não conheciamos a trilha, estavamos agora na mão dos mapas e GPS, tinhamos os mapas até onde teriamos que chegar no primeiro dia, com vários pontos marcados onde pelas fotos de satélite, a trilha sumia e continuava mais a frente. No segundo dia andariamos por uma estrada fácil, que partia ali do Vale da Gurita para Delfinópolis. O combinado no primeiro dia era andar 30 km e chegar até o salão da igreja do itajuí, la montariamos acampamento e no dia seguinte andariamos 20 km até o destino final.


Ainda tinhamos uma trilha para acompanhar, porem agora o capim ja tomava conta da maior parte e muitas vezes essa trilha desaparecia por completo e aparecia alguns metros a frente. Após súbidas, descidas, pedras, lama chegamos até um local onde ja não havia trilha e demos de cara com um muro de pedra. Para quem não conhece o muro de pedra, a primeira vista é impressionante, nessa região vemos kilômetros e kilômetros desse muros. Eles forão construídos na época da escravidão e servia para demarcar os limites das fazendas e tambem para a contenção do gado. É incrível a perfeição desses muros, que mesmo a dezenas de anos lá resiste a chuva e ventos constante. Alguns cortão montanhas em lugares tão ingrímes que fica inimaginável como fizeram aquilo, realmente surpreendente.

Como esse muro é bem baixo, pulamos ele facilmente e continuamos a trilha, desse ponto ja era possível avistar a ponta da Serra da Canastra bem la no horizonte, continuando a trilha sempre em direção ao leste, após quase 1 kilômetro encontramos novamente a trilha, bem fraca, mas visível, e andamos, ja estavamos em direção ao ponto 7 que estava mais voltado para o norte, desse ponto pra frente, sempre caminhariamos pro norte até chegar na Serra da Cachoeira do Zé Carlin, que era o ponto 9. Porem continuamos seguindo a trilha e via que ela nunca desviava para o Norte, então vimos que provavelmente ela deveria ir pra outro lugar, provavelmente pro lado da Casca D´anta, que estava beeem longe dali, olhando os mapas, resolvemos então voltar e partir para o ponto 7 mesmo sem trilha. Tivemos que descer uma serra complicada, com umas plantas bem chatas conhecida como Canela de Ema, dificultou muito a descida, além das pedras soltas e escorregadias, após 2 horas chegamos ao ponto 7, ja era 16:00 e ainda não tinhamos almoçado, a algum tempo ja estava sentido fraqueza e em vários momentos ja tinha pedido pra pararmos e preparar o almoço, porem só fizemos isso um pouco a frente do ponto 7, em um lugar um pouco diferente do que tinhamos andado, ali a vegetação rasteira era substituida por plantas um pouco mais altas e árvores de 2, 3 metros de altura, conhecidas como arvores do cerrado.

Como a vegetação era densa e bem alta tivemos que colocar o plástico da barraca no chão para podermos armar o fogãozinho que era bem pequeno e fácil de tombar. Fogo e capim da Serra da Canastra não combinam, é um capim seco que pega fogo facilmente, e caso acontecese alguma coisa o fogo espalharia rápido ali. Então abri a parte debaixo da minha barraca e forrei o chão, tinhamos uma área de mais ou menos 2 metros quadrados ali agora para preparar o rango. Levamos um fogão que aconselho todos os mochileiros ter, é um fogão bem pequeno que utiliza um gás bem pequeno também, e os dois juntos não pesam nem 500 gramas, apesar da leveza esse fogão de 50 reais e o gás não ultrapassando os 7 reais é capaz de propocionar até 6 horas de fogo, o que é possível nessas trilhas fazer 3 à 5 refeições. Nesse momento já estava bem exausto e ajudei meu pai somente com a cebola para o preparo do arroz, depois sem conseguir fazer muita coisa, puxei minha mochila e utilizei de travesseiro, forrei o chão com a lona da barraca e deitei, como as árvores ali não proporcionavam tanta sombra e o sol nesse momento estava estralando, peguei uma blusa e cobri a cara, apesar de todo o calor, mosquitos envolta, cheguei a durmir. Enquanto isso meu pai terminava de temperar o arroz e leva-lo ao fogo, tinhamos esquecido a tampa da panela e no momento ali não pensamos em nada para improvisar, por conta disso o arroz demorou mais de 30 minutos para ficar pronto. Depois disso pegou-se a lata de feijoada abriu e colocou ao fogo, alguns minutos e pronto, meu pai me acordou e comemos 2 pratos ou melhor, 2 bandejas de arroz com feijoada.

Nesse momento vocês devem estar pensando??Nossa...mas feijoada numa caminhada debaixo de sol??Foi o que pensamos depois que ja tinhamos comido, mas agora ja era, tinhamos resolvido o problema inicial que era a fome. Tinhamos feito 2 copos de arroz, perdemos um pouco a noção de quantidade, sobrou muito arroz então pegamos o restante e jogamos no chão mesmo, por ser um lixo orgânico não tem problema algum deixar ali, porem o restante das coisas, latas, restos de papeis, forão tudo recolhido, é de muita importância que isso aconteça pois como ja devem estar cansados de ouvir, alguns materiais demoram centenas e milhares de anos para deteriozar-se Como não tinhamos muita agua, nem lavamos a panela, colheres e pratos, tivemos que guarda-los sujos mesmo e deixar para lavar em um melhor momento. Isso nos causou um problema mais a frente. Deixamos esse local ja era 17:15.

OK, o ponto 8 estava a 800 metros á frente em linha reta, tinhamos somente que contornar um vale. Ja algum tempo não estavamos em trilha, e ali não era diferente, tinhamos que caminhar com o capim do cerrado na altura do joelho, e nesse momento ja nem nos importavamos onde pissavamos, só andavamos. Chegamos ao ponto 8 sem maiores problemas e logo partimos para o ponto 9, no mapa o ponto 9 era bem definido e dele partia a trilha que ia até a beira da serra do Zé Carlim, serra que tinhamos que descer para chegar a estrada que levava ao nosso local de acampamento. O ponto nove era exatamente uma árvore, em um raio de 3 metros dela não havia vegetação alguma, somente pedras. Uma coisa bem estranha, ja tinhamos vistos outras 2 árvores assim no decorrer da trilha e não sabemos explicar o motivo disso. As outras árvores que viamos ficavam no meio do nada, a trilha nem se quer passava perto. Mas por aqueles lados tem muita coisa estranha mesmo. Nosso mapa terminava no ponto 9, dali pra frente pelas fotos a trilha era bem demarcada e não imprimos o restante da mapa, a consequencia disso é detalhada no restante desse relato.

Partindo do ponto 9 rumo a descida da serra, passamos por uma antiga fazenda que nemse quer possuia mais telhas, paredes, nem mesmo o chão da pequena construção viamos. Mas era evidente uma construção nesse local, a grama que cobria uma área de 7 metros quadrados era mais parecida com um capim limão, bem verdinha e bem baixa, analisando alguns mapas mais antigos viamos que antes do parque realmente existia uma pequena fazenda. Fiquei pensando como pode viver alguem naquele lugar, para o fazendeiro que morasse ali chegar em uma área habitada ele tinha que andar kilômetros, e kilômetros nada fáceis, como era uma área alta, em tempos de chuva os raios deviam cair a todo momento. Pela altitude e o tipo de vegetação não encontramos muitas árvores, o que nos leva a ficar bem esperto quando começa a chover. Passando pela antiga fazenda, prosseguimos e nesse momento iamos de encontro a uma chuva, uma nuvem cinza escura despejando imensas cortinas d´agua. Notamos que ela afastava para o norte, então não teriamos problema, apesar que dali já observavamos os raios na montanha do outro lado do Vale da Gurita. Mesmo com ela se afastando sentiamos um pouco inseguro, pois se o vento mudasse poderiamos ter problemas, e como estamos em tempos que não podemos dúvidar de nada da natureza, isso poderia acontecer facilmente.

Chegamos na beirada da Serra, e estavamos a 300 metros de altura do local que tinhamos que descer, do lado direito tinhamos o Vale dos Cândidos, cortado por um rio amarronzado de correntezas fortes, e agora bem pior devido as chuvas. Do lado esquerdo tambem tinham um vale profundo e provavelmente com pequeno rio correndo em seu leito. Só nos restava descer a Serra a frente, na foto percebe claramente que era bem alto. Ja era 18:30 e ainda não tinhamos encontrado a trilha para descer, quando derrepente fomos surpreendidos com uma enorme nuvem escura e uma cortina branca de chuva que se aproximava rapidamente, vinda do Sul, atrás de nós. Nesse momento não tivemos nem reações para muitas coisas. Nos encontravamos já na descida da Serra, em um local levemente ingrime. Foi o tempo de tirar da bolsa a lona que cobre a barraca e tacar por cima da gente e de nossas bolsas, após alguns segundos a chuva já estava grossa e caindo forte. Estavamos sentado em uma pedra de 1 metro de altura, no meio de nossas pernas um pouco abaixo estava as mochilas e tentavamos proteger elas o máximo possível, pois ali tinhamos roupa, saco de durmir, câmera fotográfica, comida e outras coisas, que apesar de estarem tudo enrolado em sacos plásticos, com uma chuva daquela não adiantaria muita coisa. Abaixo um vídeo do momento exato, é evidente nossa alegria de estar ali, mesmo com ventos fortes, na beira de uma serra e com uma chuva violenta.


Mesmo com todos esses problemas estavamos felizes, pois nos encontravamos sozinhos na natureza, enfrentando sua força e poder, desbravando caminhos desconhecidos, obtendo a adrenalina e alcançando o êxtase da alma. A chuva ja estava bem forte batendo em nossas costas, foi então que começou a ficar mais forte ainda, e notava que estava sólida, foi então que observei no chão, granizo, alguns até 1 centímetro de expessura. Ai então começamos a ficar preocupados, pois chuva de granizo a 1300 metros de altura, somente com uma lona nos protegendo, era de se preocupar. Peguei então na bolsa o saco que guardava minha barraca e coloquei na cabeça para tentar proteger de granizos maiores que poderiam cair. Isso durou um longo tempo. Não marcado, aparentemente tinha durado horas, porem durou apenas alguns minutos. Nesses minutos que antecederam essa chuva, quase não conversavamos, ficavamos com cabeça baixa por entre as pernas pensando como sairiamos dali, já estava anoitecendo e não tinhamos um caminho a seguir, se tivessemos que acampar ali, seria uma grande aventura, se a chuva continuasse seria um grande desastre.

A chuva sessou por alguns instante até que olhamos e aproximava outra chuva vindo tambem do sul, não daria tempo de armar as barracas e tivemos que esperar essa tambem passar, essa durou alguns minutos porem com menos intensidade, apesar dos ventos ainda soprarem forte. Após tudo isso ja era 19:30, e agora sem escolha tinhamos que acampar ali...subimos um pouco a serra até achar um lugar plano. Apesar da estiagem o vento ainda era forte e dificultava a montagem da barraca, resolvemos que só iamos montar uma barraca, pois precisavamos proteger ao máximo essa barraca devido a chuvas e ventos que poderiamos enfrentar anoite, que seria uma das noites mais longa da vida.

Abrimos a barraca e rapidamente montamos as varetas que atravessavam a diagonal da barraca, cada um passou uma, até encaixa-las na peça que por fim era fixada no chão. Por sorte o chão não tinha tantas pedras grandes e fixamos bem a base da barraca ali. Nesse momento meu pai partiu atrás de pedras grandes que fixaria ainda mais a lona que cobria a parte de cima da barraca. Enquanto isso eu retirava da mochila tudo que era necessário ir para dentro da barraca, e o que dava pra ficar de fora embaixo da lona. Depois disso peguei uma pedra pontiaguda e cavei uma pequena vala de uns 5 cm de profundidade por 4 de largura em frente a barraca, local onde poderia escoar a água que descesse do morro e impedir que alagasse o chão da barraca. Os raios caiam por todos os lados, o sol se punha, a chuva nos cercava e a noite chegava, foi então que antes de guardar a câmera meu pai bateu essas fotos que demonstra como estava ao nosso redor.

Essa barraca que mau cabe 1 pessoa teria agora que caber, além de nós dois, toda nossa bagagem, depois de arrumar aqui e ali coube tudo, nem tão confortável mais "dormível". Como estavamos em território hostíl de animais selvagens e insetos tinhamos que fechar todos os zíperes possíveis a fim de impedir pelo menos a entrada de insetos e cobras ou algum animal menor, pois uma onça caso aparecesse ali não teria muita dificuldade com a barraca. Então notamos um cheiro desagradável ali dentro e vimos que a panela com o restante dos utensílios estava dentro da barraca, e como não haviamos lavado, estava uma beleza aquilo la...tinhamos que por la fora, porem o cheiro poderia atrair algum animal, ficamos nessa imparcialidade, até que pussemos tudo em 2 sacolas e colocamos na fora mesmo. Conversamos sobre o que fariamos no dia seguinte, tinhamos várias opções, podiamos tentar descer pelo lado esquerdo, direito ou pela frente, porem qualquer descisão que tomassemos implicária no tempo que tinhamos, precisavamos achar uma maneira de descer a montanha, mesmo sem saber se estavamos próximo a trilha, e depois tinhamos que caminhar até Delfinópolis.

E tinhamos uma ultima opção, que era a mais sensata, voltar de onde partimos, ja tinhamos grande parte do trajeto no GPS e era garantia que chegariamos a algum lugar, mas para isso precisavamos resolver outros 2 problemas, não estavamos encontrando as pilhas reservas do GPS e tinhamos que ligar para o Gordin par avisar que os planos tinham mudado e agora ele devia nos pegar no mesmo lugar que deixou.

Continua....

sábado, 16 de janeiro de 2010

Bike ( Riberão Preto - Dumont )

Ola a todos, vou fazer um pequeno post hoje, sábado, 16 de janeiro. Acordei e tava afim de dar uma pedalada de leve, como aqui em Ribeirão não tem muito lugares bons para isso, resolvi ir para alguma cidade vizinha, pesquisando na net, escolhi Dumont por uma foto que vi, de um antigo avião exposto em uma praça na cidade. Nada menos que um T-33, americano, construido em 1943, utilizado em 1950 na guerra da Koréia, adquirido pela FAB nos anos 60, e exposto já 20 anos.

Bom, então as 12:00 parti de Ribeirão Preto rumo a Dumont, 20 km de distância percorridos em 40 minutos sem muitos problemas, passando na rodovia pela Fundação Casa ( antiga FEBEM ), lixão da cidade, plantações de cana e usinas, uma rodovia com grandes subidas e descidas e alguns trechos sem acostamento, resumindo, uma rodoviaria não muito interessante de pedalar. Mas beleza, as 12:40 estava la. Chegando na cidade, andei uns 5 quarteirões, cheguei a uma praça com um senhor sentado, perguntei onde era o Centro, e ele disse que era ali mesmo. Então beleza, nem parecia exatamente um Centro, mas tudo bem, sentei, tomei uma coca, e lembrei que um antigo amigo meu dos meus 15 anos de idade morava ali. Se chamava Lucas e ia sempre em um tio que ele tinha na rua debaixo da minha casa em Franca. Eramos muito amigos, e sempre saimos la em Franca.

Como não era uma cidade muito grande, perguntei algumas vezes, e na terceira vez um senhor me disse que conhecia um Lucas sim, filho do Ditão e que tinha parentes em Franca. Me disse mais ou menos onde morava e eu segui, após alguns minutos cheguei no local indicado e perguntei novamente a uns cara sentado em bar tomando cerveja. Eles me indicaram o local porem disse que o Lucas que morava ali tinha morrido a uns 2 anos. Fiquei meio impressionado, mas pensei que talvez não seria esse Lucas que estava procurando, porém o cara disse que o pai dele era o Ditão e ele tinha parentes em Franca, estava a 1 quarteirão de distância e resolvi ir la confirmar isso.

Chegando no local tinha uma senhora lavando a varanda e uma moça de óculos com um cachorrinho no colo, elas não me eram estranhas. Era a mãe e a irmã do Lucas, cheguei e perguntei se ali morava o Ditão e se ele estava. Ele não estava, então logo apressei e perguntei se tinha acontecido algo com o Lucas mesmo??Se ele tinha realmente falecido. Realmente, a irmã dele me confirmou, tinha afogado tentando atravessar um rio. Foi meio complicado ouvir isso delas, pois eu ja não o via á 5, 6 anos. E me lembrava bem que o primeiro contato que tive com o violão, foi através desse cara, lembro-me que nem tocava ainda e ele ja tirava um sonzim de leve, e foi depois disso que resolvi aprender a tocar, e virou no que virou, hoje em dia é uma das coisas que mais gosto de fazer.

Isso nos leva a crer que nunca podemos contar com uma vida inteira pela frente, pois ela pode terminar bem antes do que se espera, é por isso que devemos curtir ao máximo o presente e realizar as proezas da vida assim que possível. Após alguns minutos de conversa, parti novamente para Ribeirão, tomei uma chuvinha de leve mas cheguei, tudo certo...e essa foi minha pequena pedalada hoje. Aguardem pois a viagem do final de semana passado pela Serra da Canastra, esta por vir...e essa foi uma aventura e tanto.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Trilha do Reveillon de 2010

Ola a todos, essa é minha primeira postagem em um blog, na verdade esse é o meu primeiro blog. A intenção aqui e repassar experiências e momentos que tive em aventuras inesquecíveis.
Há alguns anos venho desfrutando de viagens simples porem com muitas histórias legais, e vou escrevê-las á partir de agora para qualquer um que deseja saber como é viver intensamente na natureza, como é estar somente você em lugares quase inabitáveis.

Minha ultima aventura partiu-se próximo a Usina do Peixoto, há muito tempo venho planejando um acampamento com os amigos porem por diversos contratempos estava ficando cada vez mais difícil de acontecer. Então no reveillon desse ano resolvemos colocar as barracas no carro e partir para algum lugar, ficou decidido a repressa do Peixoto. Ficaríamos próximo a um rancho do parente do meu amigo Gordin.

Antes de chegar ao rancho uma parada para foto em frente à Usina Mascarenhas de Moraes ou Usina do Peixoto. Eu a esquerda, Gordin no meio e Atila a direita. O tripé novamente reunido.

Chegamos ao rancho na quinta, praticamente de noite. Vamos direto ao que interessa que aconteceu no sábado, dia 2 de janeiro de 2010. Após o almoço estava deitado na barraca lendo um livro de Jon Krakauer chamado Na Natureza Selvagem, esse livro conta a história de um jovem cidadão americano que após forma-se em Direito abandona seus familiares e sua vida confortável da cidade para virar um mochileiro permanente, seu plano era atravessar o país e ir até o Alaska, onde passaria alguns meses somente ele e a natureza. Ganhei esse livro em um amigo secreto da empresa e é um livro que à muito tempo queria ler.

Então na página 67 li a seguinte frase. "Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro o homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente Sol."


Nesse momento então despertou-me o espírito aventureiro e resolvi fazer algo, uma nova experiência. Então levantei e acordei o Atila para ver o que fariamos, porem como era de se esperar ele estava dormindo e bodado devido ao almoço. Recusou-se de cara o que tinha proposto. E o que tinha proposto era escalar nada mais, nada a menos que a montanha que tinha próximo onde estava acampando. Na foto ao lado é possível notar o paredão que estava disposto a enfrentar. Já sabendo que outras pessoas tinham subido, tinha certeza que era possível, então preparei uma mochila apenas com uma garrafa 2 litros de água gelada, praticamente congelada, 1 lanterna, 3 bis chocolate branco, 1 camiseta, 1 bermuda, e não deixando de lado o celular e a câmera fotográfica. Então as 10:40 comecei a subir. Somente eu.

As 10:58 já tinha subido uma boa parte da montanha, então bati uma foto para registrar o momento. Como vocês podem perceber há diversos ranchos no local onde estava acampando, na foto não da para perceber, mas as barracas estão ali naquela pequena área nua entre as árvores do lado direito inferior da foto. Do outro lado do rio aquela pequena linha branca é uma cachoeira, que apesar de pequena na foto é muito grande e era possível ouvir sua queda de noite enquanto dormíamos o que era uma sensação muito agradável.



Como era uma região cercada de ranchos e era pós reveillon a maioria dos ranchos estava com som alto e onde estava ainda era possível ouvir alguns deles. O que buscava era o silêncio absoluto, então resolvi subir um pouco mais. Depois de 3, 4 parada estava próximo ao topo, uma foto da lateral da serra é possível notar que estava praticamente na vertical. Sem cordas ou qualquer equipamento especial para alpinismo estava ficando cada vez mais complicado a subida. E em vários momentos era necessário escalar as paredes de pedra e ficar praticamente na vertical. Então finalmente as 11:34 estava no topo, cerca de 250 metros acima de onde estava já sentia um vento um pouco mais frio e bem menos barulho. Abaixo uma foto do momento exato que cheguei ao topo.




Ali procurei uma pedra, sentei e descansei um pouco apenas observando a beleza do local onde estava. Tinha acabado de escalar uma montanha razoavelmente difícil e estava contente somente por estar ali, sabendo que tinha agora que desce-la. Então peguei a água e notei que tinha somente uns 300 ml, tinha consumido todo o restante na subida debaixo de um sol de aprox. 33° de verão. Resolvi andar um pouco para procurar um local para reabastecer a água, tinha certeza que seria fácil, pois tinha chovido todos os dias anteriores.

Ao andar poucos metros, notei vegetação com poucas arvores, braquearia rasteira e solo bem árido com muitas pedras. Avistei então uma pequena trilha, provavelmente trilha de vaca, já que é tipico a criação na região. Estava ficando interessante, pois agora tinha um caminho e um desafio, encontrar uma nascente ou pequenos lagos.




Após alguns minutos encontrei então um pequeno córrego d'agua em um solo argiloso e de fácil erosão devido ao fluxo d'água. Reabasteci a garrafa e aproveitei para refrescar-me um pouco. A água estava um pouco gelada porem estava ideal para o momento que era de muito calor e cansaço. Enquanto estava ali tranqüilo notei um rastro na areia. Será que ali
seria o lugar onde a onça bebe água? Mas facilmente identificamos uma pegada de onça. Elas não deixam a marca de suas unhas, pois caminham com as mesmas para dentro das patas. Na imagem abaixo observamos claramente a marca de unhas, que provavelmente seria um animal canídeo, um lobo ou cachorro do mato. Pelo local inabitado acho improvável ser um cachorro comum.

Resolvi então continuar a trilha, pois agora tinha água e não passava das 14:00, tinha muito tempo para explorar o cerrado e quem sabe encontrar com o animal que deixou marcado sua presença na areia. Pelo tempo chuvoso e grande quantidade de água no local percebe-se claramente que o rastro era recente, bem recente. Após alguns minutos cheguei até uma estrada aberta não sei por qual motivo, pois não dava a lugar algum. Na lateral dela notava-se claramente o início
de uma erosão causada pelo sacrifício da camada que cobria a terra anteriormente. Retirando essa camada desprotegemos o solo permitindo facilmente a infiltração de água e consequentemente à formação de profundas crateras e erosões.

Seguindo pela estrada as 14:10 cheguei a uma casa que ficava na beira da Serra, uma casa que sempre via quando estava indo para o rancho, debaixo via-se apenas o telhado e os alicerces da varanda dessa casa... imaginava então uma casa enorme, com uma grande piscina, vários quartos e suítes, área de lazer e tudo mais. Porem de primeiro instante fiquei surpreso, pois a casa não possuía mais de 20 metros quadrados de construção. Resolvi então aproximar para espionar um pouco como era o local. Ao aproximar mais percebi que não existia nenhum cachorro cuidando do local, notei também as janelas e portas envolta da casa fechadas, o que da a entender que não havia ninguém ali. Ótimo. Aproximei mais e então pulei a cerca que envolvia o local. Uma cerca de madeira de lei, com troncos na vertical servindo de sustentação para troncos horizontais verdes, o que me lembrava uma cerca que encontramos em rodeios envolta da arena. Foi bem fácil pular, apesar de impróprio e considerado até mesmo um crime a invasão de propriedade, resolvi arriscar, pois estava curioso para ver a vista que esse privilegiado tinha da varanda de sua casa.

Logo notei 2 sirenes no telhado da casa posicionadas abaixo de uma antena de transmissão de ondas curtas de rádio. Sem aproximar mais tentei avistar algum infravermelho ou detector de presença que pudesse haver ali, olhei bem e não encontrando nada suspeito, resolvi prosseguir até chegar à varanda que sempre via lá debaixo. Era incrível a vista, a uma altura de 300 metros de queda livre dava para observar a repressa acima da usina que estava a quilômetros dali, os ranchos, carros e barcos embaixo, ficava tudo bem pequeno e pessoas eram praticamente inotáveis vistas de lá. Realmente nesses momentos vemos o que o dinheiro é capaz de proporcionar. Continuei a andar pelo local, notei uma piscina em forma de feijão bem rasa mais parecida com uma banheira, não possua nem 1 metro de profundidade, era coberta por um plástico azul de bolha flutuável, e 3 pisos brancos evitava que esse plástico se deslocasse ou voasse com o vento. A alguns metros atrás tinha um heliporto com uma pequena área de cimento pintada de verde e uma área maior envolta de grama bem plana. Ao lado dessa piscina tinha um cômodo de aproximadamente 8 metros quadrados, 3 paredes dessa sala eram totalmente de blindex, então pude observar que dentro existia uma banheira de hidro em um lado da sala mais elevado, para chegar até ela subia 3 degraus, ao lado um sofá simples e atrás alguns armários que provavelmente guardavam ervas, flores, líquidos especiais e outras iguarias para um banho de banheira sob a vista incrível que o local proporcionava.

Voltando a casa que também tinha uma porta enorme de blindex, tudo dentro era bem simples com uma geladeira até um pouco antiga, um balcão com alguns saquinhos de amendoins abertos, uma garrafa cinza, provavelmente de alguma bebida exótica, havia 3 canecas penduradas ao lado de um sino dos ventos de madeira. Em frente o balcão uma pequena área com uma mesa simples de 4 cadeiras, na parede ao fundo um quadro com algumas formas geométricas amarelas, azuis e vermelhas, e também 1 calendário de 2010, que marcava que alguém esteve ali recentemente. Após a cozinha havia um pequeno corredor que dava acesso a mais 3 cômodos, provavelmente 1 banheiro e 2 quartos.

A casa era bem simples, porem muito bem feita, tudo gramado, com algumas pequenas árvores não típicas do local envolta. Como já tinha matado a curiosidade, resolvi continuar a viagem, então continuei a seguir a estrada que tinha encontrado. Como já estava no meio da tarde, comecei a procurar pontos de referência para partir pro rancho novamente, não queria voltar pelo mesmo caminho então do ponto que estava resolvi seguir para o leste onde sabia que existia uma estrada que partia do Peixoto e ia até o vilarejo de Sete Volta. Também lembrava que ao lado dessa estrada tinha uma grande montanha, e no alto dessa montanha havia uma placa refletora de sinal bem grande, e é ela que estava procurando como referência.

Foi então que há localizei e percebi que ainda estava longe da estrada. Na foto ao
lado nota-se a montanha mais escura no fundo e se reparar bem da para ver a estrada. Porem entre eu e essa montanha, havia um enorme vale obstruindo a passagem até a outra montanha. Tinha que dar a volta sobre esse vale e tinha que fazer isso rápido, pois se anoitecesse, estaria na bala. Andei por cerca de 40 minutos até ver novamente pegadas bem parecidas com aquelas vista anteriormente. Mais alguns minutos de caminhada passando por pequenos riachos, pulando algumas cercas, cheguei até uma estrada um pouco mais bem marcada e com marcas de pneu, resolvi então seguir essa estrada.

Estava no alto de um pequeno morro quando embaixo avistei 2 caras, eles estavam em uma moto preta, sem capacete, um vestia calça jeans e camisa mostarda, outro também de calça jeans e camisa vermelha. Resolvi me esconder para que não me visem, e acho que realmente não me virão. Depois de algum tempo andando por essa estrada, notei que os mesmo se aproximavam de mim na moto pela estrada atrás de mim. Ao me alcançarem logo pararam ao lado, notei então que eles estavam em uma XR250 Tornado, uma boa moto para trilha, ideal para o local que estávamos, aparentavam ter 45 anos, estavam com a roupa suja de terra evidenciando a vivência na roça. Sem excitar perguntei pra que lado estava à estrada que ia de Peixoto a Sete Volta. Foi então que um deles perguntou?
_De onde você esta vindo? Respondi de imediato:
_Do Peixoto, estou procurando a estrada que vai pra Sete Volta. Então o garupa falou:
_Vixi, você esta longe hein... mas você subiu ali a serra dos ranchos?
Disse que sim e então percebi que eles poderiam ser o caseiro da casa que tinha passado lá atrás.

Explicaram-me o caminho para chegar até a estrada e saíram. Porem pararam logo à frente, uns 300 metros. A frente tinha algumas vacas soltas no pasto e tinha que passar no meio delas, então não sei se pararam para ver se eu passaria sem mais problemas por ali ou se pararam para ver se eu sairia logo dali. Passei por eles novamente e continuei a seguir a estrada. Passando por algumas casas bem antigas simples e outras um pouco melhores de cimento, persianas e tudo mais, umas grandes e outras pequenas, passei também por uma fazenda onde tinha uma senhora bem velha, aparentando 80 anos ou mais, com um lenço de flores bem surrado na cabeça, andando rumo ao terreiro com passos leves e curtos, segurava um pequeno pedaço de pau utilizando como apoio para a caminhada.


Cruzei o limite dessas fazendas e avistei então 2 cães a poucos metros de mim, um era amarelado, talvez um vira lata, mas com cara daqueles cães caçadores, outro tinha uma grande semelhança com um pastor capa preta, porem exibia também mesticidade com alguma outra raça. Pararam no meio da estrada olhando eu aproximar. Achei que poderiam causar problemas, mas quando cheguei mais perto, correram para o meio do mato, após passar ficaram cheirando meus rastros e urinando em pequenos arbustos demonstrando a dominação de seu território. Dei algumas olhadas para trás para certificar que não me atacariam e continuei.

Mais à frente a estrada se transformava em um S, que era necessário para subir uma pequena, porem íngreme montanha. E era atrás dessa montanha que estava a estrada principal que levava até o Peixoto e ao rancho novamente. Fiquei surpreso quando meu celular tocou, era o Atila que preocupado perguntou onde estava e porque estava demorando tanto. Falei minha localização e ele repetiu, notei que o Gordin também estava com ele, então ouvi o Gordin falando, “Já sei onde é!”, então o Atila disse: _Beleza então, vamos ai te buscar.

Fiquei um pouco mais aliviado, pois aproximava das 16:00 da tarde e eu estava a 15 km ainda do rancho. Sabia que teria que andar muito ainda. Continuei andando até chegar à estrada principal e vi que realmente estava bem longe. Continuei andando mesmo sabendo que eles viriam me buscar, passei por subidas e descidas onde entre
elas tinha pequenas pontes de madeira, embaixo passava riachos de águas cristalinas. Eu já estava bem cansado e com muito calor, pensava em descer em algum desses riachos para refrescar um pouco, porem não podia sair da estrada, pois a qualquer momento o Atila poderia passar e não me notar ali, passando direto e ir até o ponto que tínhamos marcado de se encontrar, ponto que já tinha ficado alguns kilometros atrás, esse ponto era exatamente onde a estrada se dividia em forma de bifurcação, um dos lados ia para Delfinópolis passando pela Ponte do Engano e o outro ia até Sete Volta e mais a frente à portaria 3 da Serra da Canastra.

Durante esse percurso passaram carros e motos, sempre buzinando e acenando, ação muito simples e comum no estado de Minas Gerais. Aproximadamente ás 16:30 então apareceu os dois no carro do Atila, saíram impressionados do local onde tiveram que me buscar, estava bem longe do rancho e queriam logo saber toda a história e ver as fotos que tinha tirado. Até saíram do carro e só entramos novamente depois de toda a história. Durante a viagem de volta fui contando os detalhes e mostrando as fotos. Relembrando todos os caminhos e bem diferente de quando tinha partido. Estava cansado, com fome, sede e uma vontade enorme de tomar um banho, porem renovado e feliz por ter passado tudo isso.