domingo, 17 de janeiro de 2010

Trekking Zagaia - Delfinópolis

Pelo visto o ano começou agitado, dia 08 de janeiro, preparavamos o equipamento para mais uma aventura, essa era um pouco mais radical, ficariamos 2 dias andando, totalizando 50 kilometros de trilha, grande parte desconhecida e sem saber se realmente existia trilha em alguns trechos.

Essa trilha ja era planejada a alguns meses, porem não haviamos feito pois no Google Earth não existia imagens detalhadas do local. Resolvemos então que iriamos fazer sem as imagens, mas como irônia do destino, ao entrar no programa vimos que tinham inseridos fotografias mais detalhadas do local, era o que faltava pra gente, então não faltava mais nada. Começamos a combinar eu e meu pai, e então apareceu mais 3 pessoas querendo participar, 2 mulheres e 1 homem, beleza, uma trilha em 5 pessoas é bem interessante, não falta assunto por todo o percurso e a divisão da bagagem fica bem melhor.

Como nada é perfeito, de ultimo momento, todos os 3 andaram pra trás, cada um por um motivo, e agora só restava eu e meu pai, depois de alguns minutos de conversa, vendo outros dias para irmos, resolvemos faze-la no dia combinado mesmo, pois remarcando para outras vezes, sempre teriamos problemas e sempre estariamos adiando. Então demoro, ia só eu e meu pai. Sai de Ribeirão Preto, com destino a Franca no dia 08, la encontrária com meu pai para fazermos as compras de tudo que era necessário. Compramos 3 latas de feijoada, 1 de almondêgas, 1 caixa de bis, 1 kg de arroz, temperos, etc.

Ok, agora era só durmir, acordariamos as 4 da manhã, dessa proeza estava participando meu amigo Gordin, servindo de apoio, ele nos levaria até a entrada 3 (Sacramento) do Parque Nacional da Serra da Canastra, dali continuariamos de pé até Delfinópolis, e ele nos pegaria la no domingo as 16:00 hrs. Essa noite como as outras a ansiedade tomava conta de nossa mente e até durmir era dificil. Acordamos no horário programado e as 4 ja estavamos na rodovia João Traficante, saindo de Franca, destino portaria 3 do parque. Percurso que tinha 180 km, grande parte de terra. Chegamos la por volta das 6 horas e iniciamos os preparamentos. Mochila nas costas e uma foto tirada por Gordin, amanhecendo o dia e nós animadissimos para iniciar a trilha. Tudo certo, então vão bora...

Fone no ouvido curtindo um Iron Maiden para animar mais ainda, logo no início ja demos de cara um tamandua bandeira, como esse ja era figurinha repetida de tanta foto, nem perdemos tempo, ele ja saio correndo por entre o capim alto da Serra e nem fomos atrás. Estavamos descendo e passariamos pela Fazenda da Zagaia, pra quem conhece o local sabe da fama, pra que não conhece, clique aqui e conheça a história do lugar. Passamos pela Zagaia e agora estavamos subindo a Serra, andariamos por vários quilômetros na Serra da Sete Volta, entre o Vale dos Cândido e o Vale da Gurita, estariamos a 1300 metros de altitude, com uma vista que alcançava kilômetros de distância, no horizonte viamos a repressa de Peixoto, e dali viamos até mesmo as Serras de Claraval, bem próximas de Franca. Após 1:45 de caminhada por trilha bem demarcada e terreno fácil chegamos ao primeiro ponto, o sol ja estava mais alto, porem nos ajudando bastante, bem tímido atrás das nuvens, não estava passando dos 25º e como é um lugar de alta altitude o vento é bem mais intenso, e nos ajuda bastante também.

Desse ponto pra frente não conheciamos a trilha, estavamos agora na mão dos mapas e GPS, tinhamos os mapas até onde teriamos que chegar no primeiro dia, com vários pontos marcados onde pelas fotos de satélite, a trilha sumia e continuava mais a frente. No segundo dia andariamos por uma estrada fácil, que partia ali do Vale da Gurita para Delfinópolis. O combinado no primeiro dia era andar 30 km e chegar até o salão da igreja do itajuí, la montariamos acampamento e no dia seguinte andariamos 20 km até o destino final.


Ainda tinhamos uma trilha para acompanhar, porem agora o capim ja tomava conta da maior parte e muitas vezes essa trilha desaparecia por completo e aparecia alguns metros a frente. Após súbidas, descidas, pedras, lama chegamos até um local onde ja não havia trilha e demos de cara com um muro de pedra. Para quem não conhece o muro de pedra, a primeira vista é impressionante, nessa região vemos kilômetros e kilômetros desse muros. Eles forão construídos na época da escravidão e servia para demarcar os limites das fazendas e tambem para a contenção do gado. É incrível a perfeição desses muros, que mesmo a dezenas de anos lá resiste a chuva e ventos constante. Alguns cortão montanhas em lugares tão ingrímes que fica inimaginável como fizeram aquilo, realmente surpreendente.

Como esse muro é bem baixo, pulamos ele facilmente e continuamos a trilha, desse ponto ja era possível avistar a ponta da Serra da Canastra bem la no horizonte, continuando a trilha sempre em direção ao leste, após quase 1 kilômetro encontramos novamente a trilha, bem fraca, mas visível, e andamos, ja estavamos em direção ao ponto 7 que estava mais voltado para o norte, desse ponto pra frente, sempre caminhariamos pro norte até chegar na Serra da Cachoeira do Zé Carlin, que era o ponto 9. Porem continuamos seguindo a trilha e via que ela nunca desviava para o Norte, então vimos que provavelmente ela deveria ir pra outro lugar, provavelmente pro lado da Casca D´anta, que estava beeem longe dali, olhando os mapas, resolvemos então voltar e partir para o ponto 7 mesmo sem trilha. Tivemos que descer uma serra complicada, com umas plantas bem chatas conhecida como Canela de Ema, dificultou muito a descida, além das pedras soltas e escorregadias, após 2 horas chegamos ao ponto 7, ja era 16:00 e ainda não tinhamos almoçado, a algum tempo ja estava sentido fraqueza e em vários momentos ja tinha pedido pra pararmos e preparar o almoço, porem só fizemos isso um pouco a frente do ponto 7, em um lugar um pouco diferente do que tinhamos andado, ali a vegetação rasteira era substituida por plantas um pouco mais altas e árvores de 2, 3 metros de altura, conhecidas como arvores do cerrado.

Como a vegetação era densa e bem alta tivemos que colocar o plástico da barraca no chão para podermos armar o fogãozinho que era bem pequeno e fácil de tombar. Fogo e capim da Serra da Canastra não combinam, é um capim seco que pega fogo facilmente, e caso acontecese alguma coisa o fogo espalharia rápido ali. Então abri a parte debaixo da minha barraca e forrei o chão, tinhamos uma área de mais ou menos 2 metros quadrados ali agora para preparar o rango. Levamos um fogão que aconselho todos os mochileiros ter, é um fogão bem pequeno que utiliza um gás bem pequeno também, e os dois juntos não pesam nem 500 gramas, apesar da leveza esse fogão de 50 reais e o gás não ultrapassando os 7 reais é capaz de propocionar até 6 horas de fogo, o que é possível nessas trilhas fazer 3 à 5 refeições. Nesse momento já estava bem exausto e ajudei meu pai somente com a cebola para o preparo do arroz, depois sem conseguir fazer muita coisa, puxei minha mochila e utilizei de travesseiro, forrei o chão com a lona da barraca e deitei, como as árvores ali não proporcionavam tanta sombra e o sol nesse momento estava estralando, peguei uma blusa e cobri a cara, apesar de todo o calor, mosquitos envolta, cheguei a durmir. Enquanto isso meu pai terminava de temperar o arroz e leva-lo ao fogo, tinhamos esquecido a tampa da panela e no momento ali não pensamos em nada para improvisar, por conta disso o arroz demorou mais de 30 minutos para ficar pronto. Depois disso pegou-se a lata de feijoada abriu e colocou ao fogo, alguns minutos e pronto, meu pai me acordou e comemos 2 pratos ou melhor, 2 bandejas de arroz com feijoada.

Nesse momento vocês devem estar pensando??Nossa...mas feijoada numa caminhada debaixo de sol??Foi o que pensamos depois que ja tinhamos comido, mas agora ja era, tinhamos resolvido o problema inicial que era a fome. Tinhamos feito 2 copos de arroz, perdemos um pouco a noção de quantidade, sobrou muito arroz então pegamos o restante e jogamos no chão mesmo, por ser um lixo orgânico não tem problema algum deixar ali, porem o restante das coisas, latas, restos de papeis, forão tudo recolhido, é de muita importância que isso aconteça pois como ja devem estar cansados de ouvir, alguns materiais demoram centenas e milhares de anos para deteriozar-se Como não tinhamos muita agua, nem lavamos a panela, colheres e pratos, tivemos que guarda-los sujos mesmo e deixar para lavar em um melhor momento. Isso nos causou um problema mais a frente. Deixamos esse local ja era 17:15.

OK, o ponto 8 estava a 800 metros á frente em linha reta, tinhamos somente que contornar um vale. Ja algum tempo não estavamos em trilha, e ali não era diferente, tinhamos que caminhar com o capim do cerrado na altura do joelho, e nesse momento ja nem nos importavamos onde pissavamos, só andavamos. Chegamos ao ponto 8 sem maiores problemas e logo partimos para o ponto 9, no mapa o ponto 9 era bem definido e dele partia a trilha que ia até a beira da serra do Zé Carlim, serra que tinhamos que descer para chegar a estrada que levava ao nosso local de acampamento. O ponto nove era exatamente uma árvore, em um raio de 3 metros dela não havia vegetação alguma, somente pedras. Uma coisa bem estranha, ja tinhamos vistos outras 2 árvores assim no decorrer da trilha e não sabemos explicar o motivo disso. As outras árvores que viamos ficavam no meio do nada, a trilha nem se quer passava perto. Mas por aqueles lados tem muita coisa estranha mesmo. Nosso mapa terminava no ponto 9, dali pra frente pelas fotos a trilha era bem demarcada e não imprimos o restante da mapa, a consequencia disso é detalhada no restante desse relato.

Partindo do ponto 9 rumo a descida da serra, passamos por uma antiga fazenda que nemse quer possuia mais telhas, paredes, nem mesmo o chão da pequena construção viamos. Mas era evidente uma construção nesse local, a grama que cobria uma área de 7 metros quadrados era mais parecida com um capim limão, bem verdinha e bem baixa, analisando alguns mapas mais antigos viamos que antes do parque realmente existia uma pequena fazenda. Fiquei pensando como pode viver alguem naquele lugar, para o fazendeiro que morasse ali chegar em uma área habitada ele tinha que andar kilômetros, e kilômetros nada fáceis, como era uma área alta, em tempos de chuva os raios deviam cair a todo momento. Pela altitude e o tipo de vegetação não encontramos muitas árvores, o que nos leva a ficar bem esperto quando começa a chover. Passando pela antiga fazenda, prosseguimos e nesse momento iamos de encontro a uma chuva, uma nuvem cinza escura despejando imensas cortinas d´agua. Notamos que ela afastava para o norte, então não teriamos problema, apesar que dali já observavamos os raios na montanha do outro lado do Vale da Gurita. Mesmo com ela se afastando sentiamos um pouco inseguro, pois se o vento mudasse poderiamos ter problemas, e como estamos em tempos que não podemos dúvidar de nada da natureza, isso poderia acontecer facilmente.

Chegamos na beirada da Serra, e estavamos a 300 metros de altura do local que tinhamos que descer, do lado direito tinhamos o Vale dos Cândidos, cortado por um rio amarronzado de correntezas fortes, e agora bem pior devido as chuvas. Do lado esquerdo tambem tinham um vale profundo e provavelmente com pequeno rio correndo em seu leito. Só nos restava descer a Serra a frente, na foto percebe claramente que era bem alto. Ja era 18:30 e ainda não tinhamos encontrado a trilha para descer, quando derrepente fomos surpreendidos com uma enorme nuvem escura e uma cortina branca de chuva que se aproximava rapidamente, vinda do Sul, atrás de nós. Nesse momento não tivemos nem reações para muitas coisas. Nos encontravamos já na descida da Serra, em um local levemente ingrime. Foi o tempo de tirar da bolsa a lona que cobre a barraca e tacar por cima da gente e de nossas bolsas, após alguns segundos a chuva já estava grossa e caindo forte. Estavamos sentado em uma pedra de 1 metro de altura, no meio de nossas pernas um pouco abaixo estava as mochilas e tentavamos proteger elas o máximo possível, pois ali tinhamos roupa, saco de durmir, câmera fotográfica, comida e outras coisas, que apesar de estarem tudo enrolado em sacos plásticos, com uma chuva daquela não adiantaria muita coisa. Abaixo um vídeo do momento exato, é evidente nossa alegria de estar ali, mesmo com ventos fortes, na beira de uma serra e com uma chuva violenta.


Mesmo com todos esses problemas estavamos felizes, pois nos encontravamos sozinhos na natureza, enfrentando sua força e poder, desbravando caminhos desconhecidos, obtendo a adrenalina e alcançando o êxtase da alma. A chuva ja estava bem forte batendo em nossas costas, foi então que começou a ficar mais forte ainda, e notava que estava sólida, foi então que observei no chão, granizo, alguns até 1 centímetro de expessura. Ai então começamos a ficar preocupados, pois chuva de granizo a 1300 metros de altura, somente com uma lona nos protegendo, era de se preocupar. Peguei então na bolsa o saco que guardava minha barraca e coloquei na cabeça para tentar proteger de granizos maiores que poderiam cair. Isso durou um longo tempo. Não marcado, aparentemente tinha durado horas, porem durou apenas alguns minutos. Nesses minutos que antecederam essa chuva, quase não conversavamos, ficavamos com cabeça baixa por entre as pernas pensando como sairiamos dali, já estava anoitecendo e não tinhamos um caminho a seguir, se tivessemos que acampar ali, seria uma grande aventura, se a chuva continuasse seria um grande desastre.

A chuva sessou por alguns instante até que olhamos e aproximava outra chuva vindo tambem do sul, não daria tempo de armar as barracas e tivemos que esperar essa tambem passar, essa durou alguns minutos porem com menos intensidade, apesar dos ventos ainda soprarem forte. Após tudo isso ja era 19:30, e agora sem escolha tinhamos que acampar ali...subimos um pouco a serra até achar um lugar plano. Apesar da estiagem o vento ainda era forte e dificultava a montagem da barraca, resolvemos que só iamos montar uma barraca, pois precisavamos proteger ao máximo essa barraca devido a chuvas e ventos que poderiamos enfrentar anoite, que seria uma das noites mais longa da vida.

Abrimos a barraca e rapidamente montamos as varetas que atravessavam a diagonal da barraca, cada um passou uma, até encaixa-las na peça que por fim era fixada no chão. Por sorte o chão não tinha tantas pedras grandes e fixamos bem a base da barraca ali. Nesse momento meu pai partiu atrás de pedras grandes que fixaria ainda mais a lona que cobria a parte de cima da barraca. Enquanto isso eu retirava da mochila tudo que era necessário ir para dentro da barraca, e o que dava pra ficar de fora embaixo da lona. Depois disso peguei uma pedra pontiaguda e cavei uma pequena vala de uns 5 cm de profundidade por 4 de largura em frente a barraca, local onde poderia escoar a água que descesse do morro e impedir que alagasse o chão da barraca. Os raios caiam por todos os lados, o sol se punha, a chuva nos cercava e a noite chegava, foi então que antes de guardar a câmera meu pai bateu essas fotos que demonstra como estava ao nosso redor.

Essa barraca que mau cabe 1 pessoa teria agora que caber, além de nós dois, toda nossa bagagem, depois de arrumar aqui e ali coube tudo, nem tão confortável mais "dormível". Como estavamos em território hostíl de animais selvagens e insetos tinhamos que fechar todos os zíperes possíveis a fim de impedir pelo menos a entrada de insetos e cobras ou algum animal menor, pois uma onça caso aparecesse ali não teria muita dificuldade com a barraca. Então notamos um cheiro desagradável ali dentro e vimos que a panela com o restante dos utensílios estava dentro da barraca, e como não haviamos lavado, estava uma beleza aquilo la...tinhamos que por la fora, porem o cheiro poderia atrair algum animal, ficamos nessa imparcialidade, até que pussemos tudo em 2 sacolas e colocamos na fora mesmo. Conversamos sobre o que fariamos no dia seguinte, tinhamos várias opções, podiamos tentar descer pelo lado esquerdo, direito ou pela frente, porem qualquer descisão que tomassemos implicária no tempo que tinhamos, precisavamos achar uma maneira de descer a montanha, mesmo sem saber se estavamos próximo a trilha, e depois tinhamos que caminhar até Delfinópolis.

E tinhamos uma ultima opção, que era a mais sensata, voltar de onde partimos, ja tinhamos grande parte do trajeto no GPS e era garantia que chegariamos a algum lugar, mas para isso precisavamos resolver outros 2 problemas, não estavamos encontrando as pilhas reservas do GPS e tinhamos que ligar para o Gordin par avisar que os planos tinham mudado e agora ele devia nos pegar no mesmo lugar que deixou.

Continua....

Um comentário: