segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Trilha do Reveillon de 2010

Ola a todos, essa é minha primeira postagem em um blog, na verdade esse é o meu primeiro blog. A intenção aqui e repassar experiências e momentos que tive em aventuras inesquecíveis.
Há alguns anos venho desfrutando de viagens simples porem com muitas histórias legais, e vou escrevê-las á partir de agora para qualquer um que deseja saber como é viver intensamente na natureza, como é estar somente você em lugares quase inabitáveis.

Minha ultima aventura partiu-se próximo a Usina do Peixoto, há muito tempo venho planejando um acampamento com os amigos porem por diversos contratempos estava ficando cada vez mais difícil de acontecer. Então no reveillon desse ano resolvemos colocar as barracas no carro e partir para algum lugar, ficou decidido a repressa do Peixoto. Ficaríamos próximo a um rancho do parente do meu amigo Gordin.

Antes de chegar ao rancho uma parada para foto em frente à Usina Mascarenhas de Moraes ou Usina do Peixoto. Eu a esquerda, Gordin no meio e Atila a direita. O tripé novamente reunido.

Chegamos ao rancho na quinta, praticamente de noite. Vamos direto ao que interessa que aconteceu no sábado, dia 2 de janeiro de 2010. Após o almoço estava deitado na barraca lendo um livro de Jon Krakauer chamado Na Natureza Selvagem, esse livro conta a história de um jovem cidadão americano que após forma-se em Direito abandona seus familiares e sua vida confortável da cidade para virar um mochileiro permanente, seu plano era atravessar o país e ir até o Alaska, onde passaria alguns meses somente ele e a natureza. Ganhei esse livro em um amigo secreto da empresa e é um livro que à muito tempo queria ler.

Então na página 67 li a seguinte frase. "Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro o homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente Sol."


Nesse momento então despertou-me o espírito aventureiro e resolvi fazer algo, uma nova experiência. Então levantei e acordei o Atila para ver o que fariamos, porem como era de se esperar ele estava dormindo e bodado devido ao almoço. Recusou-se de cara o que tinha proposto. E o que tinha proposto era escalar nada mais, nada a menos que a montanha que tinha próximo onde estava acampando. Na foto ao lado é possível notar o paredão que estava disposto a enfrentar. Já sabendo que outras pessoas tinham subido, tinha certeza que era possível, então preparei uma mochila apenas com uma garrafa 2 litros de água gelada, praticamente congelada, 1 lanterna, 3 bis chocolate branco, 1 camiseta, 1 bermuda, e não deixando de lado o celular e a câmera fotográfica. Então as 10:40 comecei a subir. Somente eu.

As 10:58 já tinha subido uma boa parte da montanha, então bati uma foto para registrar o momento. Como vocês podem perceber há diversos ranchos no local onde estava acampando, na foto não da para perceber, mas as barracas estão ali naquela pequena área nua entre as árvores do lado direito inferior da foto. Do outro lado do rio aquela pequena linha branca é uma cachoeira, que apesar de pequena na foto é muito grande e era possível ouvir sua queda de noite enquanto dormíamos o que era uma sensação muito agradável.



Como era uma região cercada de ranchos e era pós reveillon a maioria dos ranchos estava com som alto e onde estava ainda era possível ouvir alguns deles. O que buscava era o silêncio absoluto, então resolvi subir um pouco mais. Depois de 3, 4 parada estava próximo ao topo, uma foto da lateral da serra é possível notar que estava praticamente na vertical. Sem cordas ou qualquer equipamento especial para alpinismo estava ficando cada vez mais complicado a subida. E em vários momentos era necessário escalar as paredes de pedra e ficar praticamente na vertical. Então finalmente as 11:34 estava no topo, cerca de 250 metros acima de onde estava já sentia um vento um pouco mais frio e bem menos barulho. Abaixo uma foto do momento exato que cheguei ao topo.




Ali procurei uma pedra, sentei e descansei um pouco apenas observando a beleza do local onde estava. Tinha acabado de escalar uma montanha razoavelmente difícil e estava contente somente por estar ali, sabendo que tinha agora que desce-la. Então peguei a água e notei que tinha somente uns 300 ml, tinha consumido todo o restante na subida debaixo de um sol de aprox. 33° de verão. Resolvi andar um pouco para procurar um local para reabastecer a água, tinha certeza que seria fácil, pois tinha chovido todos os dias anteriores.

Ao andar poucos metros, notei vegetação com poucas arvores, braquearia rasteira e solo bem árido com muitas pedras. Avistei então uma pequena trilha, provavelmente trilha de vaca, já que é tipico a criação na região. Estava ficando interessante, pois agora tinha um caminho e um desafio, encontrar uma nascente ou pequenos lagos.




Após alguns minutos encontrei então um pequeno córrego d'agua em um solo argiloso e de fácil erosão devido ao fluxo d'água. Reabasteci a garrafa e aproveitei para refrescar-me um pouco. A água estava um pouco gelada porem estava ideal para o momento que era de muito calor e cansaço. Enquanto estava ali tranqüilo notei um rastro na areia. Será que ali
seria o lugar onde a onça bebe água? Mas facilmente identificamos uma pegada de onça. Elas não deixam a marca de suas unhas, pois caminham com as mesmas para dentro das patas. Na imagem abaixo observamos claramente a marca de unhas, que provavelmente seria um animal canídeo, um lobo ou cachorro do mato. Pelo local inabitado acho improvável ser um cachorro comum.

Resolvi então continuar a trilha, pois agora tinha água e não passava das 14:00, tinha muito tempo para explorar o cerrado e quem sabe encontrar com o animal que deixou marcado sua presença na areia. Pelo tempo chuvoso e grande quantidade de água no local percebe-se claramente que o rastro era recente, bem recente. Após alguns minutos cheguei até uma estrada aberta não sei por qual motivo, pois não dava a lugar algum. Na lateral dela notava-se claramente o início
de uma erosão causada pelo sacrifício da camada que cobria a terra anteriormente. Retirando essa camada desprotegemos o solo permitindo facilmente a infiltração de água e consequentemente à formação de profundas crateras e erosões.

Seguindo pela estrada as 14:10 cheguei a uma casa que ficava na beira da Serra, uma casa que sempre via quando estava indo para o rancho, debaixo via-se apenas o telhado e os alicerces da varanda dessa casa... imaginava então uma casa enorme, com uma grande piscina, vários quartos e suítes, área de lazer e tudo mais. Porem de primeiro instante fiquei surpreso, pois a casa não possuía mais de 20 metros quadrados de construção. Resolvi então aproximar para espionar um pouco como era o local. Ao aproximar mais percebi que não existia nenhum cachorro cuidando do local, notei também as janelas e portas envolta da casa fechadas, o que da a entender que não havia ninguém ali. Ótimo. Aproximei mais e então pulei a cerca que envolvia o local. Uma cerca de madeira de lei, com troncos na vertical servindo de sustentação para troncos horizontais verdes, o que me lembrava uma cerca que encontramos em rodeios envolta da arena. Foi bem fácil pular, apesar de impróprio e considerado até mesmo um crime a invasão de propriedade, resolvi arriscar, pois estava curioso para ver a vista que esse privilegiado tinha da varanda de sua casa.

Logo notei 2 sirenes no telhado da casa posicionadas abaixo de uma antena de transmissão de ondas curtas de rádio. Sem aproximar mais tentei avistar algum infravermelho ou detector de presença que pudesse haver ali, olhei bem e não encontrando nada suspeito, resolvi prosseguir até chegar à varanda que sempre via lá debaixo. Era incrível a vista, a uma altura de 300 metros de queda livre dava para observar a repressa acima da usina que estava a quilômetros dali, os ranchos, carros e barcos embaixo, ficava tudo bem pequeno e pessoas eram praticamente inotáveis vistas de lá. Realmente nesses momentos vemos o que o dinheiro é capaz de proporcionar. Continuei a andar pelo local, notei uma piscina em forma de feijão bem rasa mais parecida com uma banheira, não possua nem 1 metro de profundidade, era coberta por um plástico azul de bolha flutuável, e 3 pisos brancos evitava que esse plástico se deslocasse ou voasse com o vento. A alguns metros atrás tinha um heliporto com uma pequena área de cimento pintada de verde e uma área maior envolta de grama bem plana. Ao lado dessa piscina tinha um cômodo de aproximadamente 8 metros quadrados, 3 paredes dessa sala eram totalmente de blindex, então pude observar que dentro existia uma banheira de hidro em um lado da sala mais elevado, para chegar até ela subia 3 degraus, ao lado um sofá simples e atrás alguns armários que provavelmente guardavam ervas, flores, líquidos especiais e outras iguarias para um banho de banheira sob a vista incrível que o local proporcionava.

Voltando a casa que também tinha uma porta enorme de blindex, tudo dentro era bem simples com uma geladeira até um pouco antiga, um balcão com alguns saquinhos de amendoins abertos, uma garrafa cinza, provavelmente de alguma bebida exótica, havia 3 canecas penduradas ao lado de um sino dos ventos de madeira. Em frente o balcão uma pequena área com uma mesa simples de 4 cadeiras, na parede ao fundo um quadro com algumas formas geométricas amarelas, azuis e vermelhas, e também 1 calendário de 2010, que marcava que alguém esteve ali recentemente. Após a cozinha havia um pequeno corredor que dava acesso a mais 3 cômodos, provavelmente 1 banheiro e 2 quartos.

A casa era bem simples, porem muito bem feita, tudo gramado, com algumas pequenas árvores não típicas do local envolta. Como já tinha matado a curiosidade, resolvi continuar a viagem, então continuei a seguir a estrada que tinha encontrado. Como já estava no meio da tarde, comecei a procurar pontos de referência para partir pro rancho novamente, não queria voltar pelo mesmo caminho então do ponto que estava resolvi seguir para o leste onde sabia que existia uma estrada que partia do Peixoto e ia até o vilarejo de Sete Volta. Também lembrava que ao lado dessa estrada tinha uma grande montanha, e no alto dessa montanha havia uma placa refletora de sinal bem grande, e é ela que estava procurando como referência.

Foi então que há localizei e percebi que ainda estava longe da estrada. Na foto ao
lado nota-se a montanha mais escura no fundo e se reparar bem da para ver a estrada. Porem entre eu e essa montanha, havia um enorme vale obstruindo a passagem até a outra montanha. Tinha que dar a volta sobre esse vale e tinha que fazer isso rápido, pois se anoitecesse, estaria na bala. Andei por cerca de 40 minutos até ver novamente pegadas bem parecidas com aquelas vista anteriormente. Mais alguns minutos de caminhada passando por pequenos riachos, pulando algumas cercas, cheguei até uma estrada um pouco mais bem marcada e com marcas de pneu, resolvi então seguir essa estrada.

Estava no alto de um pequeno morro quando embaixo avistei 2 caras, eles estavam em uma moto preta, sem capacete, um vestia calça jeans e camisa mostarda, outro também de calça jeans e camisa vermelha. Resolvi me esconder para que não me visem, e acho que realmente não me virão. Depois de algum tempo andando por essa estrada, notei que os mesmo se aproximavam de mim na moto pela estrada atrás de mim. Ao me alcançarem logo pararam ao lado, notei então que eles estavam em uma XR250 Tornado, uma boa moto para trilha, ideal para o local que estávamos, aparentavam ter 45 anos, estavam com a roupa suja de terra evidenciando a vivência na roça. Sem excitar perguntei pra que lado estava à estrada que ia de Peixoto a Sete Volta. Foi então que um deles perguntou?
_De onde você esta vindo? Respondi de imediato:
_Do Peixoto, estou procurando a estrada que vai pra Sete Volta. Então o garupa falou:
_Vixi, você esta longe hein... mas você subiu ali a serra dos ranchos?
Disse que sim e então percebi que eles poderiam ser o caseiro da casa que tinha passado lá atrás.

Explicaram-me o caminho para chegar até a estrada e saíram. Porem pararam logo à frente, uns 300 metros. A frente tinha algumas vacas soltas no pasto e tinha que passar no meio delas, então não sei se pararam para ver se eu passaria sem mais problemas por ali ou se pararam para ver se eu sairia logo dali. Passei por eles novamente e continuei a seguir a estrada. Passando por algumas casas bem antigas simples e outras um pouco melhores de cimento, persianas e tudo mais, umas grandes e outras pequenas, passei também por uma fazenda onde tinha uma senhora bem velha, aparentando 80 anos ou mais, com um lenço de flores bem surrado na cabeça, andando rumo ao terreiro com passos leves e curtos, segurava um pequeno pedaço de pau utilizando como apoio para a caminhada.


Cruzei o limite dessas fazendas e avistei então 2 cães a poucos metros de mim, um era amarelado, talvez um vira lata, mas com cara daqueles cães caçadores, outro tinha uma grande semelhança com um pastor capa preta, porem exibia também mesticidade com alguma outra raça. Pararam no meio da estrada olhando eu aproximar. Achei que poderiam causar problemas, mas quando cheguei mais perto, correram para o meio do mato, após passar ficaram cheirando meus rastros e urinando em pequenos arbustos demonstrando a dominação de seu território. Dei algumas olhadas para trás para certificar que não me atacariam e continuei.

Mais à frente a estrada se transformava em um S, que era necessário para subir uma pequena, porem íngreme montanha. E era atrás dessa montanha que estava a estrada principal que levava até o Peixoto e ao rancho novamente. Fiquei surpreso quando meu celular tocou, era o Atila que preocupado perguntou onde estava e porque estava demorando tanto. Falei minha localização e ele repetiu, notei que o Gordin também estava com ele, então ouvi o Gordin falando, “Já sei onde é!”, então o Atila disse: _Beleza então, vamos ai te buscar.

Fiquei um pouco mais aliviado, pois aproximava das 16:00 da tarde e eu estava a 15 km ainda do rancho. Sabia que teria que andar muito ainda. Continuei andando até chegar à estrada principal e vi que realmente estava bem longe. Continuei andando mesmo sabendo que eles viriam me buscar, passei por subidas e descidas onde entre
elas tinha pequenas pontes de madeira, embaixo passava riachos de águas cristalinas. Eu já estava bem cansado e com muito calor, pensava em descer em algum desses riachos para refrescar um pouco, porem não podia sair da estrada, pois a qualquer momento o Atila poderia passar e não me notar ali, passando direto e ir até o ponto que tínhamos marcado de se encontrar, ponto que já tinha ficado alguns kilometros atrás, esse ponto era exatamente onde a estrada se dividia em forma de bifurcação, um dos lados ia para Delfinópolis passando pela Ponte do Engano e o outro ia até Sete Volta e mais a frente à portaria 3 da Serra da Canastra.

Durante esse percurso passaram carros e motos, sempre buzinando e acenando, ação muito simples e comum no estado de Minas Gerais. Aproximadamente ás 16:30 então apareceu os dois no carro do Atila, saíram impressionados do local onde tiveram que me buscar, estava bem longe do rancho e queriam logo saber toda a história e ver as fotos que tinha tirado. Até saíram do carro e só entramos novamente depois de toda a história. Durante a viagem de volta fui contando os detalhes e mostrando as fotos. Relembrando todos os caminhos e bem diferente de quando tinha partido. Estava cansado, com fome, sede e uma vontade enorme de tomar um banho, porem renovado e feliz por ter passado tudo isso.

5 comentários:

  1. What a Helll!!! Onde se aprendeu isso aew viado.>!!???
    Ta Loko demais..!Continua..!!
    Parabéns!

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  2. Que isso hem !!!
    espero estar em suas próxims entre, muitos em que ja estivemos juntos, nas aventuras e belezas da vida ....
    Isso sim que realmente é saber desfrutar tds as maravilhas que a vida possa nos ofereçer ...
    Parabéns , continue sempre assim ..
    conte comigo !!

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  3. considerando alguns erros de ortografia e etc mesmo eu nao tenha lido inteiro parece que ta bom sim!!

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  4. Nossa Juninho muito legal isso!!! Continue sempre assim trazendo essas fotos lindas e historias emocionantes!!!
    Parabens pelo blog!!!

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