quinta-feira, 28 de julho de 2011

Trilha da Zagaia - A vingança

A viagem não havia nem começado e já estava dando errado. O carro no qual íamos de Ribeirão Preto para Franca foi parado pelos policias rodoviários e com o licenciamento vencido não houve choro, o carro foi aprendido e meu pai teve que nos buscar na policia para chegar ao primeiro destino que era a casa da minha mãe.

Foi assim que começou o final de semana no qual tínhamos planejado a desejada aventura de transpor a batizada por nós mesmo de Trilha da Zagaia, para aqueles que acompanharam essa mesma trilha no ano passado quando fiz somente com meu pai, sabe que não conseguimos nosso objetivo, faltando cerca de 2 km para finalizarmos, não conseguimos atravessar uma cadeia de montanhas para descer de 1400 metros de altitude para 700.

Dessa vez tínhamos todos os possíveis pontos de descida das montanhas traçadas no GPS e a vingança estava por vir, iríamos vencer e conquistar nosso objetivo, ir da entrada Sacramento do Parque Nacional da Serra Canastra até Delfinópolis, cerca de 60 km no total. Caminho quase que na sua totalidade formado por planície, estepes e savana.

Ainda na sexta a noite, após a divisão da bagagem no qual metade era água, dividimos 45 kg entre os 3 aventureiros. A outra metade era composta de itens para camping, comida, fogareiro, algumas poucas peças de roupa e eletrônicos como GPS, celular e IPod.

As 4:30 da manhã no sábado partimos no carro do nosso amigo Zé, de Franca com destino a entrada do parque. Chegamos no local próximo as 7:30 e já atrasados começamos a trilha. Com o sol alto, céu azul e mochila nas costas, começamos a primeira descida da entrada onde o carro chegou até a Fazenda da Zagaia, local de muitas lendas e motivo dos calafrios ao passarmos próximos. As lendas podem ser lidas no site do meu pai http://www.serradacanastra.cjb.net/.

Após uma rápida passagem ao lado da casa já quase na sua totalidade destruída pela ação do tempo, iniciamos a primeira subida, nesse momento meu pai começou com umas tosses suspeitas, cujo o mesmo disse causadas pela gripe. Hehehe, sei. Mas continuamos e foi parando aos poucos, beleza, estava mais tranqüilo.


Depois de 1 hora, chegamos a primeira parada, dali pra frente já quase não existia trilha definida, mas não era problema para quem tinha todos os pontos marcados no GPS. Continuamos andando entre as belas paisagens da serra. De um lado já vínhamos a Gurita um pouco distante ainda, de outro dava pra avistar as torres que cortam o parque. Entre isso somente o Vale dos Cândidos e o Vale da Babilônia.



Após 2 horas já estávamos no segundo ponto de parada, no muro de pedra onde era um possível ponto de água. Ainda bem que era um possível, pois se tivéssemos ido na certeza, teríamos que nos contentar com alguns litros ainda empoçados por entre as pedras do riacho.
Após uma tranqüila subida, ao descanso das sombras das enormes pedras envolta, estávamos otimistas quanto ao trajeto. Já tínhamos andando metade do caminho para o primeiro dia e em apenas 4 horas. Ainda nesse momento tínhamos certeza que conseguiríamos transpor todo o percurso estipulado para o primeiro dia.



Á partir desse momento, meu pai começou a se afastar de mim e do Ed, e em um intervalo de 30 em 30 minutos tínhamos que esperar um pouco por ele. Mas nada que atrapalhasse o percurso.
Depois de algumas horas, era cerca de 15:00 horas, tínhamos que tomar uma decisão, pararíamos de andar para o Leste para mudar para Norte, chegando assim na borda da montanha.


Apesar de estarmos munidos de 2 GPS, um somente como orientador e outro que continha o percurso já traçado, decidimos tomar uma atitude da qual ainda acho errônea nesses momentos.
Tinha o ponto A B e C, olhamos para o horizonte e víamos que era possível ir do ponto A para o ponto C direto. Bom, isso realmente era possível sim, cortaríamos uns 5 km, porém iríamos deixar de andar no plano, para descer e subir um vale.


Bom, meu pai queria a opção A-C, eu queria A-B-C, o Ed por nunca ter feito a trilha, se manteve neutro. E como o pai manda, pelo menos na minha época, começamos o trajeto A-C.
No começo tudo legal, descida razoavelmente tranqüila, até chegarmos em um riacho, o mesmo que corre até a fazenda da Maria Concebida. Fiquei impressionado não só com a transparência como é todos os riachos daquela região, mas porque existia uma pequeno lago de cor azulado. Incrível, ficamos lá um pouco e cogitamos até a possibilidade de preparar o almoço por ali, mas depois de alguns minutos notamos a presença de muitos mosquitos e decidimos continuar e fazer em outro local.

Após atravessar o rio já começava o reverso da medalha, e na subida diferente da descida, nenhum santo ajuda. Eu previa 1 hora para subir aquela montanha, e foi dito e feio, chegamos no ponto C por volta das 16:30.

Ao chegar nesse ponto, tínhamos que atravessar uma pequena floresta formada por árvores baixas e secas típicas daquela região. Tranqüilo, atravessamos ali e ao chegar do outro lado vimos o primeiro animal da trilha, um tamanduá bandeira, ainda jovem, estava em cima de um cupinzeiro almoçando, diferente dele, nos ainda não tínhamos almoçado, estava repondo as energias á base de Gatorate, BIS e Barrinhas de Cereal.



Seguimos a trilha e nesse ponto já tínhamos a certeza que não seria possível descer a montanha, e teríamos que acampar ali em cima mesmo. Continuamos a trilha sentido ao último ponto antes da descida montanha, chegamos nele cerca de 1 hora depois, e já começamos a procurar pontos para armar o acampamento.



Armamos as barracas em um lugar plano, próximo a umas pedras que seriam utilizadas para segurar um pouco o vento para que o fogareiro funcionasse plenamente. Porém esse lugar era um descampado, e como ali é uma região de ventos fortes, era possível que pegássemos um pouco de vento á noite.


O sol já estava se pondo, enquanto começávamos a preparar nosso almoço/janta. Após esquentar a lata de feijoada e salsicha vegetal do Ed(vegetariano). Fizemos um pouco de arroz, e nesse momento, comemos a comida mais gostosa do mundo.

Estava se aproximando aquelas noites que são as mais longas da vida, como eu e meu pai iríamos ficar na mesma barraca, já sabia que a noite seria longa, deitamos umas 19:00, foi deitar e dormir, acho que estava meio cansado, mas depois de um tempo acordei e perguntei o horário pro meu pai, ele disse que era 20:00. É, realmente a noite seria longa.

Durante todo o tempo dormia 20 minutos, ficava 30 acordado, e assim foi passando a noite. O vento ia cada vez aumentado mais, e já lá pelas 2 da manhã o vento estava muito forte, a ponto de quebrar o galho onde estava amarrado a proteção que ia por cima das barracas, fazendo a proteção voar, por sorte, estava bem pressa em um gancho atrás das barracas, e foi a única coisa que o segurou.


A lua minguante subiu no céu, e de dentro da barraca parecia que estava amanhecendo, mas era o sono nos confundindo e ainda tínhamos 3 horas de escuridão. Durante o tempo acordado, só pensávamos na presença das onças pardas que tem ali pelo parque, caso alguma dessas estivesse nas redondezas poderíamos ter problemas, mas, não tivemos, correu mais ou menos tudo certo, tirando o vento que era capaz de arrastar as barracas caso não tivesse com muito peso dentro.
As 6 da manhã já começamos a levantar acampamento, enquanto eu e Ed desmontava as barracas, meu pai plotava no GPS os pontos de descida da montanha. Em meia hora estávamos prontos e começamos a andar novamente, dessa vez com vento forte e mais frio.


Já tínhamos certeza de que chegar em Delfinópolis seria difícil por isso começamos a procurar pontos de sinal de celular para ligar pro Zé nos buscar no Zé Carlin, na descida da serra por incrível que pareça, pegou todo o sinal no celular, liguei e avisei, pronto, agora era só continuar.
Descemos até o ultimo vale antes da última montanha, e nos recordamos da última vez que estivemos ali, fomos até aquele exato ponto e tivemos que voltar todo o percurso por não ter encontrado a trilha que atravessava a última montanha.


Hoje seria diferente, logo na descida da montanha, já avistamos a trilha na ultima montanha, e como tínhamos todos os pontos no GPS não deu outra, conseguimos encontrar a trilha e atravessamos a última montanha, do lado de lá já conseguíamos ver bem de perto a fazenda do Zé Carlin, a cachoeira, o pasto abaixo de nossos pés, a trilha também já estava mais aberta, e descemos sem maiores problemas. Mas, sempre lembrando o quanto chegamos tão perto da outra vez e não tivemos paciência de olhar com cuidado até encontrar a trilha.


Chegamos no pasto, tínhamos ainda que atravessar um rio para chegar até a fazenda, e ficamos procurando algum ponto um pouco mais raso, depois de quase 1 hora andando, encontramos um ponto e atravessamos, aquela água gelada da serra já era quase morfina para nossos pés.






Do outro lado, sentamos em baixo de uma árvore e ali ficamos fazendo almoço, esperando o Zé. Que chegou por volta das 13:00. Entramos no carro e partimos rumo a Franca, ali essa mesma história era contada para o Zé que ia comparando com suas aventuras também ali por perto.




E foi assim que terminou mais uma de nossas aventuras. A próxima já estamos planejando pra daqui 2, 3 meses.